A floresta amazônica guarda não apenas biodiversidade — ela abriga culturas vivas que resistem e ensinam. Uma delas é a dos Shanenawá, conhecidos como “o povo do gavião”, moradores das margens do rio Envira, no Acre. Nesta imersão cultural, o visitante não é apenas turista: é convidado a participar, escutar e respeitar.
Se você busca uma experiência transformadora e autêntica, veja neste guia como funciona a vivência com os Shanenawá: o que esperar, como chegar, quanto custa e, acima de tudo, como visitar com ética e sensibilidade.
Quem são os Shanenawá?
O nome Shanenawá significa “povo do gavião”, símbolo de visão ampla e espírito livre. Essa comunidade vive no município de Feijó (AC), em território demarcado, e preserva com firmeza sua espiritualidade, cultura oral, saberes de cura e rituais ligados à natureza.
Entre seus costumes, destacam-se:
- Cantos sagrados (nixi pae)
- Pinturas com jenipapo e urucum
- Danças de cura e celebração
- Coletivos de artesanato e alimentação tradicional
A transmissão de conhecimento é feita pela oralidade, especialmente pelos mais velhos, e cada história, receita ou trilha tem um significado profundo.
Como chegar à aldeia
Chegar à aldeia Shanenawá exige logística, tempo e preparo físico. Mas o caminho já é parte da experiência:
Voo até Rio Branco (AC)
A capital do Acre recebe voos regulares das principais cidades brasileiras.
Transporte até Feijó (AC)
- Por terra: cerca de 6h pela BR-364
- Ou avião monomotor (sob disponibilidade de facilitadores locais)
Travessia pelo rio Envira
- Em voadeira (barco motorizado amazônico)
- Duração: entre 4h e 6h, conforme o nível do rio
Durante esse trajeto, a paisagem muda, o tempo desacelera e o corpo se prepara para uma vivência fora da lógica urbana.
Como é a vivência na aldeia
Ao chegar, o visitante é recebido com cantos, colares de sementes e uma cerimônia de boas-vindas. A partir daí, não há “check-in”, mas sim integração. Você é parte do cotidiano da comunidade.
Hospedagem
- Em redes, dentro de malocas ou casas de madeira
- Sem eletricidade, sem internet, sem luxo — mas com acolhimento
Alimentação
- À base de mandioca, peixe, frutas da floresta
- Preparada coletivamente e compartilhada em rodas
Atividades típicas
- Aprender a fazer o beiju
- Caminhadas com os anciãos na floresta
- Roda de histórias e oficinas de pintura corporal
- Coletas e banhos de rio
Espiritualidade
- Possibilidade de participar de rituais de consagração dos quatro elementos
- Cantos nixi pae e danças tradicionais
- Nota importante: Práticas com plantas de poder não são oferecidas a turistas. Respeitar os limites da comunidade é um princípio do turismo responsável.
Quanto custa a experiência?
Item | Valor aproximado (R$) |
Transporte Rio Branco – Feijó | R$ 250 a R$ 500 |
Travessia de voadeira (ida e volta) | R$ 600 a R$ 1.000 |
Imersão (5 a 7 dias com alimentação e hospedagem) | R$ 1.200 a R$ 2.000 |
Total estimado | R$ 1.800 a R$ 3.500 |
Os valores variam conforme a época, a demanda e o facilitador. Prefira sempre organizações que tenham vínculo direto com a comunidade.
O que levar na mochila?
Prepare-se para um ambiente úmido, rústico e natural:
- Roupas leves e de secagem rápida
- Capa de chuva ou poncho
- Repelente e protetor solar
- Rede de dormir (caso não seja fornecida)
- Lanterna com pilhas extras
- Remédios pessoais
- Garrafa de água reutilizável
- Caderno para anotações e vivências
Como visitar com respeito
- Evite fotografar sem permissão.
- Participe das atividades com escuta e presença.
- Não pressione por rituais — aceite o que for oferecido.
- Valorize facilitadores e guias comprometidos com os Shanenawá.
- Prefira vivências organizadas com a liderança local.
Dica Joy2Be: Algumas organizações que atuam com ética e parceria direta com a aldeia são o Instituto Yawanawá e iniciativas locais ligadas à rede Origens Brasil.
O que essa imersão ensina?
Mais do que uma viagem, a vivência com os Shanenawá é um mergulho em outra forma de perceber o mundo.
Você aprenderá:
- A cozinhar com presença
- A escutar sem interromper
- A andar na floresta com reverência
- Que o tempo não é linha reta, mas ciclo
O retorno à cidade é marcado por algo novo no corpo e na alma: o entendimento de que existem outros modos de vida possíveis — mais leves, mais humanos e mais conectados à Terra.
Para organizar sua viagem
Antes de planejar sua ida, sugerimos:
- Verificar a disponibilidade com facilitadores com laços comprovados com a aldeia
- Reservar com antecedência mínima de 2 meses
De volta ao mundo de cá
Quando retornamos à cidade, o corpo ainda traz a cor do jenipapo, o cheiro da fumaça, o eco dos cantos noturnos. Mas algo mais profundo vem conosco: um realinhamento interno. A floresta ensinou, os Shanenawá ensinaram. E agora é a nossa vez de lembrar.
Lembrar que existem outros modos de vida. Outras formas de beleza. Outros caminhos possíveis.